O processo evolutivo
As espécies autóctones de seres vivos - plantas, animais e micro-organismos - resultam do longo e natural processo evolutivo de adaptação aos seus ecossistemas de suporte, que conduziu à existência de funções e aspectos da vida especializados, nelas próprias ou na interligação dessas espécies entre si e às condições edafoclimáticas. Essas espécies são, pois, aquelas que melhor estão preparadas para manter, no seu ambiente, os processos vitais fundamentais tais como a sobrevivência e a reprodução.
Factores essenciais
Um aspecto crucial dessa capacidade de adaptação e especialização reside em dois factores essenciais e intimamente associados um ao outro: o longo período necessário para esse processo gradual de desenvolvimento evolutivo; e a conservação ou lenta e gradual alteração dos ecossistemas, apreciados como um todo, isto é, nas condições, nas variáveis e nos parâmetros sobre o clima, a meteorologia, a geografia, a orografia e outros aspectos e parâmetros físicos e químicos existentes na terra, no subsolo, na água e no ar.
Melhoramento e variedades
Para além deste processo natural de evolução adaptativa, o homem, ao longo da sua história, tem introduzido práticas de melhoramento em algumas espécies, quer em animais quer em plantas, que resultou também numa maior diversidade de seres vivos, designados habitualmente por variedades, mas que não configuram novas ou diferentes espécies, e que maximizam determinados aspectos dessas espécies para benefício do homem.
Diversidade ecológica e biológia
A diversidade de ecossistemas existentes no planeta está, pois, na base da diversidade biológica.
A acção do homem
Porém, no estado do mundo actual e no acelerado processo de globalização e degradação ambiental tem-se observado significativas mudanças, muitas delas por acção do próprio homem, com impactos profundos e graves, designadamente a modificação ou destruição dos ecossistemas, a introdução de espécies exógenas que competem com as espécies autóctones, a introdução de grandes áreas de cultivo com novas espécies exógenas ou artificialmente modificadas, particularmente com a utilização de intensas culturas monoclonais, a disseminação de pragas e doenças, a existência de grande incêndios, a modificação dos cursos de água ou a criação de albufeiras, entre outras acções que criam stresses naquelas funções vitais de sobrevivência e reprodução das espécies autóctones. As modificações que o homem tem realizado, sobretudo nos tempos modernos, tem como nota principal a sua celeridade e os enormes e significativos impactos. Esta celeridade não se contemporiza com o tempo necessário para o processo natural de evolução e adaptação, ou seja, e por outras palavras, as espécies não têm tempo para se adaptar às alterações actualmente em curso, pelo que ou resistirão às novas condições ou simplesmente irão extinguir-se. Estas mudanças têm, pois, vindo a pôr em causa a sobrevivência das espécies autóctones, resultante de milhares ou mesmo milhões de anos de adaptação evolutiva, e a potenciar uma enorme perda de diversidade biológica.
As componentes da biodiversidade
As componentes da biodiversidade, incluindo os recursos genéticos, associados a estas espécies autóctones, ainda não são total e cientificamente conhecidos, sobretudo aqueles no âmbito aos processos moleculares da vida, nem explorados nas suas aplicações, pelo que a sua perda configura uma perda inestimável para a humanidade e para toda a vida na Terra. As espécies autóctones fazem parte dos recursos naturais e estão na base da preservação da biosfera. Do que se trata aqui é, pois, de criar as condições para a protecção e conservação das espécies autóctones e a formulação e implementação de programas de investigação e desenvolvimento.
O estado do mundo e a globalização
Por outro lado, esta apreciação específica sobre as espécies autóctones enquadra-se num contexto e situação mais amplo e profundo. De facto, o estado do mundo actual e o acelerado processo de globalização e degradação ambiental tem colocado a humanidade perante o enorme desafio e responsabilidade em implementar a nível global a filosofia do desenvolvimento sustentável, porventura o único modelo visionável de desenvolvimento civilizacional capaz de garantir a manutenção e a preservação dos mecanismos da utilização racional e sustentável dos recursos naturais que estão na base e são o suporte da vida do homem enquanto espécie e neste planeta.
Observa-se que a conservação da natureza em todos os seus aspectos e domínios se encontra ameaçada pelas más práticas em curso, pelos modelos de produção e hábitos de consumo potenciados pelo aumento demográfico, e pelas consequências da má governação.
A depleção dos recursos naturais e os impactos adversos da degradação do meio ambiente, incluindo a desertificação, a seca, a degradação e destruição dos ecossistemas e habitats, a progressiva escassez de água doce e a perda da biodiversidade, exacerbam e soma à lista de perigos e desafios que a humanidade enfrenta, e com consequências ainda não totalmente visionáveis e apreciadas por grande parte da população mundial.
Reconhece-se que o processo em curso e já observável das alterações climáticas é um dos maiores desafios do nosso tempo e cujos impactos negativos comprometem seriamente a capacidade dos vários países em implementar e alcançar os objectivos do desenvolvimento sustentável.
Admite-se, pois, que está em risco a sobrevivência de muitas comunidades e seus modos de vida, e a subsistência dos sistemas de suporte da biosfera no planeta, o garante último dos mecanismos e processos de manutenção da vida neste planeta.
O século 21
Neste contexto e situação, o século 21 será absolutamente determinante para se tomarem, com firmeza, coragem e determinação, as grandes decisões que irão definir o futuro próximo da humanidade, e tais decisões deverão ser tomadas por cada cidadão, individualmente, e, colectivamente, pelas várias instituições de cada país ou território.